domingo, 27 de novembro de 2011

JAZIGOS DA MEMÓRIA


JAZIGOS DA MEMÓRIA


Uma miragem me sustenta
em tempos de desalento.
Procuro dar-lhe a concreção da carne
mas temo o vazio
em torno da paisagem:
conheço apenas o tédio.

A hora esmigalhada
com-passada
marca a cada passo
o vôo do pássaro
e as asas do sonho
(partidas).

Durante anos busquei
o encontro
mitigando silêncios
maturados no desamor.

Durante anos
tenho tentado planos
tão confusos
escutado gritos
incendidos do pecado
à beira do abismo.

Mas eis aqui o resultado
de todas as rondas:
a face da traição
(gargalhada do ódio)
e o estertor da solidão
(lacrimejar da dor).

Assim me exponho
(e proponho) ao tempo
solitário clarim madrugada
em notas pelos muros.

Durmo no chão
perseguido na esquina
da violência inimiga.

Meto-me em ruas
sem nome em roupas
que não são minhas.

Ouço bater os portões
de casas não construídas
entre países e ruínas.

Assim me cruzo e divido
com outros no labirinto.
E ainda assim eu sonho.
Brumas de sol
entrecortando o túnel
do tempo.
Tudo em mim
foi em falso e dúbio.

Falto de ódio
ordenei ao povo
odiar nas ruas.

Falto de amor
marquei encontro
na esquina dos amantes.

Agora tudo é tão claro.
Na noite do meu corpo
sem estrelas
chego enfim ao porto
das lembranças esquecidas.

O fim da jornada
é sempre o reinício
de novas rupturas
entre corpo e espírito.

Sei que o recomeço é atraente:
condensa a ousadia dos inícios
e a cautela dos fins.

Mas até quando
reconhecer/recomeçar
será em mim
o inelutável ciclo
das opções mal feitas?

Recolho-me aos jazigos
perpétuos da memória
para delir
solitário em dor.

                                          Recife, setembro/76-julho/2002.
                                                     Chico de Assis

Dia da Liberdade


                                                   Chico de Assis


Dez anos engravidam
esse entardecer 
de múltiplas quimeras. 

A essência represada nas ruas
inunda minhas narinas
enquanto o vento
provoca um frêmito
no meu rosto.

O tempo que se foi
não esmaece e transparece
na mira do soldado
guardião da sala
onde se assina
o último ato.

Traços familiares
tateiam passos
na construção
de um novo rumo.

As marcas do passado
tornam movediço o presente
e imponderável o futuro.
Será isso ser livre?

(novembro de 1979)

sábado, 26 de novembro de 2011

Sólida Solidão




Solidão sólida
compartida repartida
entre centenas de prédios
e milhares de seres
arranhando céus
da indiferença social
sósia solitária
da comunhão virtual
que se aninha em rede
como no casulo de uma casa
se tecem os passos
paralíticos dos desamores
e as teias esgarçadas
do casal que se desfaz.

Sopro vital
sobre a superfície inútil
a esperança naufraga
em inúteis braçadas
e recupera o fôlego
na saturação do tédio
que explode em artimanhas
do acaso inusitado
entrelaçando vidas
em fios desencontrados
que se revelam tecidos
na solidez de um só destino.  

                                              (Poema inspirado no filme Medianera, argentino, em exibição. Muito bom).              

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

PEDREIROS


Diariamente companheiro
eu te encontro aqui
no crepúsculo do parque.

Tu colocando pedras
e abrindo caminho nos ares.
Eu deslocando pedras
sem abrir sequer um atalho. 

domingo, 13 de novembro de 2011

A HORA DA ESTRELA: UM QUASE ROMANCE, DE UMA QUASE MULHER, SOBRE UMA QUASE PERSONAGEM, NA QUASE LINGUAGEM DE CLARICE LISPECTOR


Autor: Francisco de Assis Rocha Filho
Disciplina: Literatura Feminina Brasileira
Profª: Drª Renata Pimentel



Introdução


A trilha mais adequada para o que pensamos expor aqui - e que inclusive nos inspirou o título deste artigo - é com certeza a descoberta por Barthes, em seu interminável esforço para estabelecer uma conceituação que nos deixe o mais próximo possível do que venha a ser literatura. Diz ele: “Não se pode dizer que a literatura não diz nada, mas também não se pode dizer que ela diz alguma coisa ou que diz tudo... ...Encontramo-nos numa região que podemos provisoriamente qualificar de impossivel; não me repugna dizer que a escrita é da ordem de dizer “quase alguma coisa” (BARTHES apud NOLASCO, 2001, p. 196).
Para além do prestígio que o autor de Le degré zéro de l'écriture (1953) desfruta no mundo das letras, seriam diversas as razões da escolha de um enunciado seu para servir de guia às nossas modestas conjecturas. Mas a razão principal é que não vemos na literatura brasileira obra que chegue mais perto da conceituação exposta, do que a produzida por Clarice Lispector, ora objeto do nosso estudo. É dela, inclusive, a afirmação lapidar: “Escrever é dificil porque toca nas raias do impossível” (1999, p. 64).
Clarice é sim o inacabado. Para atenuar o possível peso negativo da expressão, “Benedito Nunes fala de uma totalidade narrativa única, cada obra (livro) sendo a parte a imprimir ao todo a feição de multiplicidade. E Roberto Correa dos Santos entende que há uma só obra com várias retomadas, cada qual rompendo com as anteriores” (PONTIERI, 2001, p. 24). De uma forma ou de outra, não é por acaso que os livros mais expressivos de Clarice não têm começo nem fim. A Paixão segundo GH começa e termina com traços de união. Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres começa com uma vírgula e termina com dois pontos. São símbolos gráficos reveladores da insatisfação da escritora ao fim de cada obra, que vão culminar no patético desespero do “autor” de Um Sopro de Vida : “Eu... eu... não. Não posso acabar.
Eu acho que...” (p. 159), configuração de linguagem, cuja incompletude se torna ainda mais significativa, quando lembramos que se trata do seu último livro, só publicado postumamente!
É através dessa infinita dialética – que a faz transitar do texto à realidade e da realidade ao texto, sempre em busca do novo na realidade e no texto - que tentaremos explorar nosso roteiro, através dos “quases” que atormentaram por toda a vida o labor literário de Clarice Lispector e que assinalam o essencial de sua trajetória na literatura brasileira.

Um quase romance, uma quase-mulher

“Toda uma literatura contemporânea é autonímica; ela consiste em designar a si mesma como literatura, em escrever sobre a impossibilidade de escrever (BARTHES, 2005, p. 289). Com certeza, a produção literária clariceana se insere nesse contexto autonímico. A problematização do ato de escrever, essa angústia por encontrar um significante que recubra sem lacunas o significado, faz de “cada novo livro de Clarice uma busca desesperada pela linguagem, para alcançar a última escritura impossível. Por outro lado, cada um dos livros – por ser uma construção de linguagem – representa uma (des)construção da escritura impossível buscada (NOLASCO, 2001, p. 253).
Clarice, como poucos, problematiza sua linguagem, tensionando-a, questionando-a, enaltecendo-a pelo poder que ela lhe confere, e negando-a pelo fracasso permanente a que a conduz. “Eu tenho, à medida que designo – e este é o esplendor de ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais, à medida que não consigo designar” (PSGH, 1986, p. 172). Esse sentimento de fracasso da linguagem (“só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu” 1986, p. 172) é acentuado por Benedito Nunes para classificar a escrita clariceana como “errante, autodilacerada, uma forma de improviso intérmino, no qual parece abolir-se a distinção entre prosa e poesia; fluxo verbal contínuo, sucessão de fragmentos da alma e do mundo, já não pode mais receber a denominação de conto, romance ou novela” (1998, p.45).
É nessa mesma direção que Olga de Sá anota que “o diluído enredo, ainda subsistente em seus primeiros livros, se dissolve progressivamente a favor da anotação de cada dia, cada hora, cada minuto que escorre. Como se houvesse uma vida superficial, tecida de fatos, que fosse preciso esgotar depressa; e uma vida profunda, latente, da qual é urgente contar, instante a instante, as pulsações” (2004, p. 201), expressão que, não por acaso, aparece entre parênteses, logo em seguida ao título de Um Sopro de Vida, como se elas (as pulsações de cada segundo) fossem o centro vital desencadeador da narrativa.
Em resumo, podemos afirmar que a trama ficcional arquitetada por Clarice e as personagens por ela criadas põem em xeque o enredo, mesmo Joana em seu livro inaugural (Perto do Coração Selvagem). Como diz Segolin, “a personagem já não é agente de uma intriga , mas “texto-agente” de uma metalinguagem, que faz do próprio texto seu único heroi” (SEGOLIN apud SÁ, p. 213).
Esse processo tortuoso de elaboração culmina em A Hora da Estrela, livro que é “uma mosquinha na lógica de desenvolvimento capitalista”, se quisermos captar apenas o profundo sentido social que ele conduz e acompanhar a feliz definição da professora Renata Pimentel, ou “uma fotografia muda”, “um silêncio”, “uma pergunta”, se quisermos nos fixar nas definições categóricas de Rodrigo SM. Rodrigo é o narrador inventado por Clarice, em operação que revela sua condição também de “quase-mulher”, que se socorre, ainda que ironicamente, de uma voz masculina, para evitar que a narrativa derrape em pieguice (“um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas” - p. 14).
Enfim, predominam no fazer literário de Clarice os fragmentos, “os sussurros” que os fatos produzem e vão se tornando obsedantes, ou a postura que ela já havia anunciado desde Água Viva: “Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo, não deixando, gênero não me pega mais” (AV, 1998, p. 12/13, grifo meu)

Sobre uma quase-personagem


“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou” (HE, 1998, p. 11).
Assim Rodrigo SM, alter ego clariceano de plantão em A Hora da Estrela, começa sua fabulação consigo mesmo, com seus possíveis leitores (“assim é que os senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos” - p. 12), ou com a própria Clarice, aqui também exercendo uma tríplice função (autora/narradora/personagem), com a qual ele se cruza e na qual se transfigura, para a construção de Macabéa, uma personagem apreendida no “ar de uma rua do Rio de Janeiro, quando de relance (captou) o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina” (p. 12)
E não poderia haver melhor inicio, ou melhor premonição do que estaria por vir depois, pois logo nos situa no essencial da narrativa. Ou seja, nos situa no impossível de clarificar por inteiro, no que ficou no meio ou no “quase” e cuja elaboração “parece fácil, mas é muito dificil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama” (p. 19).
É assim que se lança ao desafio de compor Macabéa, “essa moça que não se conhece senão através de ir vivendo à toa”, que, “se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu?” cairia estatelada e em cheio no chão” (p. 15) e que “é tão tola que às vezes sorri para os outros na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham” (p. 16).
“Macabéa é a “diferente”, a “marginal” e a ela temos acesso, revirando pelo avesso a estrela do seu destino, lido na pauta da felicidade por sua companheira de desdita – a cartomante” (SÁ, 2004, p. 226). Essa aura mortuária, que acompanha e contorna os passos de Macabéa por toda a história (“a morte que é nesta história o meu personagem predileto” - p. 84), parece coroar a compreensão de Rodrigo SM, que se sabe e se sente tão marginalizado quanto ela, de que “se não escrever sobre o social, se não criar uma Macabéa, não terá lugar no mundo” (2004, 229). Marlene Bilenky cria o binômio “salvar/trair” para explicar o jogo tácito presente em A Hora da Estrela, que segundo ela impregna “o espírito do livro, Macabéa e seu criador” (BILENKY apud SÁ, p. 228). Recorrendo ao mesmo binômio, Olga de Sá vai concluir que “Macabéa (traida por Rodrigo ao ser criada, salva por ele ao morrer) tem na hora da morte sua hora de estrela (“o rosto dela lembrava um esgar de desejo” - p. 84) e o escritor que mata sua personagem também morre com o texto” (p. 228), praticando o que Olga chama mais adiante de “haraquiri textual” (p. 229).
Macabéa morre sem descobrir quem é, agarrando-se “a um fiapo de consciência repetia mentalmente sem cessar: eu sou, eu sou, eu sou. Quem era, é que não sabia. Fora buscar no próprio profundo e negro âmago de si mesma o sopro de vida que Deus nos dá (p. 84) – o grifo é meu para assinalar a possibilidade de renascimento de Macabéa, transmutada em Ângela Pralini, protagonista de Um Sopro de Vida, livro gestado simultaneamente a A Hora da Estrela. As duas estão sujeitas a “crises de mulherice”, no dizer irônico de seus respectivos narradores. “Quando dá uma crise de mulherice em Ângela, ela espia o mundo pelo buraco da fechadura da cozinha. Ela ambiciona viver uma voragem de felicidade” (SV, p. 62), pontua o Autor em Um Sopro de Vida. Já em Macabéa, constata Rodrigo SM, “a mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol” (p. 28).
Sim, é certo: há outra roupagem, outro contexto, outra classe social. Mas é o mesmo o circuito de ambiguidades e incompletudes que liga umbilicalmente os movimentos, silenciosos ou não, de todas as personagens femininas de Clarice. Elas sáo “quase sempre dominadas por um estado de languidez e sensualidade, porém são resistentes psiquica e fisicamente. Elas nunca se abnegam de si, mesmo entre mãe e filha. O discurso feminino é marcado pela falta de racionalidade e sentimentos autênticos. Vemos estas características nos diálogos entre Joana e a tia (Perto do Coração Selvagem), Lucrécia e Ana (A Cidade Sitiada), Virginia e Esmeralda (O Lustre), Ermelinda e Vitória (A Maçã no Escuro), Macabéa com suas companheiras de quarto (A Hora da Estrela). Há uma tensão que reflete o desconhecimento delas de como a racionalidade abre perspectivas” (Bernadete Grob-Lima, 2009, p. 52). A mesma Grob-Lima completa mais adiante: “Elas tem um cotidiano sombrio, sufocado pelo volume de tédio, cuja origem está na falta de desenvoltura intelectual. Nelas, a inércia mental engendra uma crença no acaso, nos poderes sobrenaturais como possibilidades de solucionar os problemas da existência; mas isso resulta apenas numa expansão do vazio” (2009, p. 54).
Essa crença no sobrenatural levou Macabéa ao encontro da cartomante e por extensão ao encontro da morte. Se bem que para ela foi seu primeiro encontro com a vida (“hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia da minha vida: nasci” - p. 80); seu mais profundo contato com o prazer (“ou é porque a pré-morte se parece com a intensa ânsia sexual?” - p. 84) e com a descoberta final da sua condição de mulher (“pois só agora entendia que mulher nasce mulher desde o primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher” - p. 84).
Na quase-linguagem


Em Clarice, tudo se passa como se o escrever fosse apenas a expressão de uma pergunta, condenada a ficar eternamente sem resposta. Desde o primeiro livro (Perto do Coração Selvagem), Joana se pergunta “quem sou eu”. O autor de Um Sopro de Vida, o último livro, se questiona “eu sou eu?”. No transcurso de uma a outra, Macabéa, somente uma vez, se fez a mesma trágica indagação. “Assustou-se tanto que parou de pensar” (HE, p. 40).
Toda uma trajetória, relativamente afortunada pela crítica, foi insuficiente para trazer-lhe a resposta. Cerca de 25 títulos publicados, entre romances, contos, crônicas, histórias infantis – ou, para ficar mais de acordo com o que se disse até aqui: simplesmente, centenas de textos – não lhe permitiram vencer a sensação de inacabado, que transparece fulminante na Dedicatória do Autor, em A Hora da Estrela: “trata-se de livro inacabado porque lhe falta a resposta” (1998, p. 10).
Procurar, não encontrar, e fazer desse desencontro o desvendar do desconhecido, parece ter sido a tônica de toda a produção clariceana, ou de toda sua vida, que ela mesma reduz a escrever, escrever, escrever, ato que chega a considerar mais importante que o próprio ato de amar. Olga Borelli, amiga mais próxima de Clarice em seus últimos anos de vida, em “Clarice Lispector: esboço para um possível retrato”, livro que escreveram (ela e Clarice) a quatro mãos, registra que, para Clarice, não escrever era morrer. “Cheguei mesmo à conclusão de que escrever é a coisa que mais desejo no mundo, mesmo mais que amor (BORELLI, p. 114).
Mas sua relação com a linguagem é tensa, expressão do descontinuo, do infindável recomeçar, como ela diz, transmutada em GH: “é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas – volto com o indizível” (PSGH, 1986, p. 172).
Certa vez, Clarice disse de si mesma: “se eu tivesse que dar um título à minha vida seria: à procura da própria coisa” (LISPECTOR apud SÁ, p. 233). E é a palavra que ela transforma em razão primeira e última dessa procura: “Estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Eu quero apossar-me do é da coisa” (AV, 1998, p. 9). E mais adiante: “quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz” (p. 10). Desse incessante e tortuoso caminhar, Clarice sai exausta e permanentemente insatisfeita. É o que deixa transparecer num desabafo a mesma Olga Borelli: “O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Cada vez escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever” (1981, p. 35).


De Clarice Lispector: o silêncio que fala!


Eu sei criar silêncio. É assim: ligo o rádio bem alto – então de súbito desligo. E assim capto o silêncio. Silêncio estrelar. O silêncio da lua muda” (SV, 1999, p. 55). Silêncio. Um livro sem palavras. Talvez ai o segredo da esfinge. (“Eu sei qual é o segredo da esfinge. Ela não me devorou porque respondí certo à sua pergunta. Mas eu sou um enigma para a esfinge e no entanto não a devorei. Decifra-me disse eu à esfinge. E esta ficou muda” (p. 103).
Milenar e culturalmente oprimida, a sobrevivência da mulher esteve historicamente ligada a um pacto intermitente com o siléncio. Silencía principalmente sobre a dominação falocêntrica, vetor da evolução da humanidade em todas as etapas históricas que compreendem essa evolução. “A subversão dessa ordem dita “falocêntrica”, pela intromissão da voz feminina, coincide com o direcionamento que tomam os estudos pós-estruturalistas e com muitas das preocupações da psicanálise lacaniana, que faz uma revisão das ideias de Freud. Um movimento totalmente oposto ao da tradição dos estudos literãrios é o que marca a preocupação da crítica feminista: a reafirmação da autoridade da experiência e a conquista de um espaço de expressão para as silenciadas” (Pimentel, 2000, p. 54).
É nessa conquista de espaço para as silenciadas que podemos e devemos inserir a obra de Clarice. Na relação com os homens, com o trabalho, com o amor, com a cultura, com todos os componentes principais do que se chama tecido social, a mulher encontrou no silêncio, quase sempre, a resposta mais adequada às situações estabelecidas no desenvolvimento de cada uma dessas relações. Clarice Lispector – apesar da mulher excepcional que foi – e sua obra – que a supera e a torna ainda mais singular – não escaparam dessa contingência. Carlos Nejar, em sua História da Literatura Brasileira, diz que Clarice buscou “a ficção de dupla face – uma na palavra e outra no silêncio” (2011, p. 700). Se reporta então a Ionesco, para lembrar que o mundo impede que o silêncio fale. E arrematar: “Clarice alcança a vitória do silêncio sobre o mundo” (p. 700).
Na acepção acima, podemos então dizer que Clarice foi um “anjo-vingador” da espécie feminina. Na construção de uma obra que depurou obsessivamente, trabalhando nos interstícios do silêncio, nas crateras intermitentes da pré-história (ou “na pré-história da pré-história”), onde ficara secularmente soterrado o silêncio de suas ancestrais, ela parece ter ido buscar a força devastadora de uma linguagem que liberta definitivamente a todas. Nesse sentido, Clarice é o silêncio que fala. Também nesse sentido, e talvez apenas nele, Clarice foi absolutamente inteira!


Abreviaturas:
HE - A Hora da Estrela
PSGH – A Paixão Segundo GH
AV – Agua Viva
PCS – Perto do Coração Selvagem
SV – Um Sopro de Vida

Referências Bibliográficas
BARTHES, Roland. A Preparação do Romance – vol. I. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

GROB-LIMA, Bernadete. O Percurso das Personagens de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

LISPECTOR, Clarice. Água Viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. 1ª edição. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

LISPECTOR, Clarice. A Paixão Segundo GH. 11ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração Selvagem. 7ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

LISPECTOR, Clarice. Um Sopro de Vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

LISPECTOR, Clarice. Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

PIMENTEL, Regina. Olhares Femininos na Crítica Pós-Moderna: a questão do gênero; o lugar da diferença; uma leitura da identidade e do sujeito. Revista Investigações, UFPE, vol.11, 2000.

PONTIERI, Regina. Clarice Lispector: Uma Poética do Olhar, São Paulo, Ateliê Editorial, 2ª edição, 2001.

NEJAR, Carlos. História da Literatura Brasileira. 1ª edição. São Paulo: Leya, 2011.

NOLASCO, Edgar Cezar. Clarice Lispector – Nas entrelinhas da escritura. 1ª edição. São Paulo: Annablume, 2001.

SÁ, Olga de. Clarice Lispector: a travessia do oposto. 3ª ed. São Paulo: Annablume, 2004.

ZILBERMAN, Regina (org.). A Narração do Indizível – Coletânea de textos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1998.



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"O ATENEU" E OS PORTAIS DO INFERNO DANTESCO


      1. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

Proponente: Francisco de Assis Rocha Filho
Disciplina: Literatura Brasileira I
Professor: Dr. Janilto Andrade


Introdução
O texto que nos remete a'O Ateneu de Raul Pompeia, e que foi objeto de avaliação em aula, é um texto de Rodrigo Gurgel, que nos parece marcado pelo ranço preconceituoso dos que não sabem distinguir entre a crítica literária – que deve estar isenta de qualquer propósito destrutivo – e a crítica feita para obter alguma projeção, seja de qual ordem for. Porque não se concebe que no romance em foco – considerado obra-prima por diversos expoentes da nossa literatura – o articulista do jornal paranaense (“Rascunho”), não tenha encontrado nada que merecesse o reconhecimento dos que acompanham e participam da cena literária, senão o seu parágrafo inicial (“Vais encontrar o mundo. Coragem para a luta”). A partir daí, segundo ele, tudo não passará de “relíquias” que “enxovalham a obra do começo ao fim, construindo um universo de preciosismo que, para ser compreendido, exige dicionários e enciclopédias” ( RASCUNHO, junho de 2010).
Todas as tentativas de análises psicológicas das personagens – que traçam perfis riquissimos nessa área, talvez só inferiores aos traçados por Machado de Assis – são transformadas em artimanhas de “um narrador sui generis, hábil em depreciar, mestre da chacota, que possui, entretanto, autocomplacência evangélica” (idem, ibidem). De resto, acusa o autor (ou o narrador, que ele não distingue um do outro) de dissimulado, narcisista e de se embrenhar na retórica como “refúgio do pernóstico, o instrumento por meio do qual ele camufla seus reais interesses, inclusive os sexuais” (idem, ibidem). Termina por condenar o livro todo como sendo “uma ofensiva gargalhada, a um passo da histeria”.
Não nos compete aqui investigar as razões pelas quais o crítico enveredou pelo caminho mais fácil da fraseologia leviana. O que se percebe é que não há no texto qualquer esforço para fundamentar qualquer uma das suas análises em qualquer tópico mais consistente da teoria literária. E acusando Raul de “Enfermo de Retórica” - expressão com a qual intitula seu artigo -, parece se enredar numa enfermidade maior – a do superficialismo crônico, que disfarça na agressividade sua incapacidade de formular proposições com um mínimo de consistência. Vamos por isso deixá-lo de lado, a mastigar seu provincianismo raivoso, enquanto enveredamos nas trilhas abertas pela extensa fortuna crítica, já consolidada em torno do romance.


DEVASSANDO “O ATENEU”


É Mário de Andrade quem nos situa de forma mais direta na temática do romance, ao lado da possível intenção do autor ao escrevê-lo. Diz o escritor emblemático da Semana de Arte Moderna no Brasil: “Não é possível negar, as provas são fortes, que neste livro de ficção o escritor vazou a sua vingança contra o seu internamento no colégio Abilio. O Ateneu é uma caricatura sarcástica e, relativamente a Raul Pompeia, dolorosissima, da vida psicológica dos internatos” (Livraria Martins Editora, São Paulo: 6ª edição, p. 173). “Abilio” era o nome do colégio carioca, onde o autor esteve de fato internado. Seu diretor, de nome homólogo ao do colégio e mais conhecido como o barão de Macaúbas, seria a origem do diretor do Ateneu, Aristarco, embora a opinião geral seja de que os dois guardem pouquíssimas semelhanças. Mesmo admitindo tenha sido outra a intenção do romancista, para o autor de Macunaima “quem quer que leia com maior intimidade O Ateneu, percebe logo que o romancista se vinga. Atira-se com um verdadeiro furor destrutivo contra tudo e todos do colégio... …Raul Pompeia se vinga. Se vinga do colégio com uma generalização tão abusiva e sentimental que chega à ingenuidade (idem, ibidem, p. 173)”.
Apesar do aparente caráter depreciativo contido na formulação, o próprio Mário realça que isso em nada reduz a grandeza social e literária da obra. Cita, por exemplo, as configurações de Aristarco, para sublinhar momentos em que “Raul Pompeia atinge as raias da genialidade. Não há nenhuma página sobre Aristarco que não seja magistral. A violência é prodigiosa, as imagens saltam inesperadas, de um vigor de realismo e de uma beleza de imaginação absolutamente excepcionais... ...Este será sempre um dos maiores méritos de Pompeia e sua invenção genial. Aristarco ficará como tipo heróico e sarcástico do diretor de colégio de uma unidade e poder de convicção como não conheço outro congênere na literatura universal” (Martins Editora, SP, 6ª ed., p. 180)
Já Lúcia Miguel Pereira descarta de saída a importância atual da discussão sobre as origens reais do Ateneu-Colégio, ou mesmo sobre os sentimentos que haveriam motivado o autor na construção de O Ateneu-Romance. Embora reconheça que no momento de publicação há de ter sido de grande interesse descobrir os traços de semelhança entre o Ateneu e o seu suposto modelo, “hoje já não importam tais indagações. Não sofrendo dos defeitos tão comuns nas obras intencionais, o livro como que se desprendeu completamente das circunstâncias de que se originou” (Itatiaia, Belo Horizonte; Editora da Universidade de São Paulo, SP, 1988, p. 108). A respeito de saber até que ponto no narrador (Sérgio) se encarnara o autor, ou se o drama de Sérgio seria o mesmo de Pompéia, Lúcia diz parecer provável que o seja, admitindo estivesse ali “a chave do destino trágico do escritor, da solidão que o levou ao suicídio, prisioneiro da própria hipersensibilidade” (1998, p. 108). Acentua, contudo, que a personificação melhor daquele drama está principalmente “na dor dos primeiros contatos com a vida, o choque de quem se vê de repente num ambiente desconhecido e o percebe hostil. Para exprimir esse sofrimento, Pompeia escolheu uma criança e um colégio, como poderia ter escolhido um recruta e uma caserna, uma mulher e a nova família onde entra pelo casamento” (idem, ibidem, p. 108).
QUANDO O “MUNDO” SE TORNA “INFERNO”
Enfocando o estudo que fez a respeito, certamente por ângulo diferente ao dos autores até aqui citados, Massaud Moisés sugere um diálogo d'O Ateneu com A Divina Comédia, de Dante. Segundo ele, a estrutura do livro é similar ao Inferno dantesco, (configuração que inclusive nos inspirou o título deste trabalho), correspondendo cada capítulo, episódio ou peripécia a um dos círculos infernais. Destaca então a fala inicial do pai de Sérgio – “Vais encontrar o mundo. Prepara-te para a luta”, cuja força de abertura é indiscutível e aceita como um feliz achado por todos -, entendendo-a “uma réplica cruel, na sua aparente sabedoria e desprendimento, do verso com que Dante desengana os que se destinam aos abismos de Satã: “Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate”. Bem podia o pai de Sérgio dizer-lhe que perdesse a esperança, pois adentrava o Inferno” (Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, l985, p. 122). Mantendo o cenário dantesco, Massaud afirma que os “doze capítulos d'O Ateneu parecem reproduzir os nove círculos infernais: os luxuriosos, os gulosos, os avaros, os pródigos, os iracundos, os agressivos, os enganadores ali se encontram” (idem, ibidem,p. 123).
Depois de longa digressão para demonstrar a adequação do paralelo estabelecido (sem dispensar uma competente incursão no terreno que Freud e a Psicanálise iriam explorar vastamente logo depois: “o Narrador mergulha no tempo à procura de sua e alheia infância, matriz das neuroses vindouras, e volta com um relato corrosivo, impiedoso mas verídico. Ao contrário de paraiso perdido, a infância é o Inferno: entra-se pela vida pagando os pecados presentes e futuros...” - 1985, p. 125 ), Massaud conclui lapidarmente:
O Ateneu é uma narrativa de arte, a fábula do menino que se perdeu nos caldeirões infernais (simplesmente por ter vindo à vida e ingressado na escola) e que se lembra, em meio à interminável agonia, da salvação que a arte pode representar” (1985, p. 131).




UMA ESPERANÇA NATIMORTA


Além da arte, acrescentaríamos por nossa conta, o romance sugere também que a salvação possa estar no amor. Que irrompe devastador n'O Ateneu, quando Sérgio baixa enfermaria e Ema, esposa de Aristarco, o acompanha veladamente, em todo o periodo de doença e convalescença. A paixão platônica (edipiana?), que atravessa todo o livro desde o primeiro encontro entre os dois, imprime-se então sem meias tintas, em páginas inesquecíveis e inapagáveis, retratos do belo, que o verdadeiro amor sabe produzir e que só a sensibilidade do verdadeiro artista sabe captar:
Junto da cama, um velador modesto e uma cadeira. Ema sentava-se. Pousava os cotovelos à beira do colchão, o olhar nos meus olhos – aquele olhar inolvidável, negro, profundo como um abismo, bordado pelas seduções todas da vertigem. Eu não podia resistir, fechava as pálpebras; sentia ainda na pálpebra com o hálito de veludo a carícia daquela atenção” (2009, p. 163).
E em continuidade:
Aristarco surgia às vezes solenemente, sem demorar. Ângela nunca. Fora-lhe proibida a entrada. (Ângela, grifo nosso, era expressão da luxúria que adornou os passos de todos os alunos durante todo o tempo de internato. A proibição de sua entrada no quarto do enfermo sugere o sentimento que Ema já nutriria por ele e os ciúmes que lhe provocariam a presença da “rival” no quarto). Junto da cama, D. Ema comovia-se... ...Tirava-me a mão, prendia nas dela, tempo esquecido; luzia-lhe no olhar um brilho de pranto” (2009, p. 164)
Ou ainda mais:
“Fez-se-me desesperada necessidade a companhia da boa senhora. Não! Eu não amara nunca assim a minha mãe. Ela andava agora em viagem por países remotos, como se não vivesse mais para mim. Eu não sentia a falta. Não pensava nela... Escureceu-me as recordações aquele olhar negro, belo, poderoso, como se perdem as linhas, as formas, os perfis, as tintas, de noite, no aniquilamento uniforme da sombra” (2009, p. 165).
Para concluir:
A convivência cotidiana na solidão do aposento estabelecera a entranhada familiaridade dos casais. Ema afetava não ter mais para mim avarezas de colchete. “Sérgio, meu filhinho”. Dava-me os bons dias... ...Debruçava-se expansiva, resplendendo a formosura sobre mim, na gola do penhoar, como um derramamento de flores de uma cornucópia... ...olhava-me de perto, bem dentro dos olhos, num encontro inebriante de olhares. Aproximava o rosto e contava, lábios sobre lábios, mimosas historietas sem texto, em que falava mais a vivacidade sanguinea da boca, do que a imperceptivel confusão de arrulhos cantando-lhe na garganta como um colar sonoro” (2009, 167).
Se o romance terminasse aqui, seria um hino extraordinário de esperança e confiança no futuro, espécie de prêmio inigualável por todas as desventuras e amarguras vividas num meio, onde Sérgio encontrara predominantemente o que a espécie humana carrega de mau ou de inclinação irrefreável para o mal. Mas se o romance terminasse aqui, não seria um romance de Raul Pompéia, um ser corroído pela angústia do desespero no enfrentamento do dia a dia, contingência que o levou ao suicídio, sete anos depois da publicação d'O Ateneu.
Um ser descrente, absolutamente cético de tudo, teria que encaminhar seu narrador – ou, se quiserem, ser conduzido por ele, pois ninguém descobriu até hoje quem domina quem na elaboração de uma obra ficcional – a um desfecho mais consentâneo com o pessimismo crônico, entranhado na concepção de mundo que Pompéia esposou e alardeou no transcorrer de sua curta existência. Embora enlevado, vivendo o ápice de um momento raro de felicidade, naquele meio que sempre lhe fora hostil, Sérgio tinha surtos premonitórios do que poderia vir: “Apavorava-me um susto, alarma eterno dos felizes, azedume insanável dos melhores dias: não fosse subitamente destruir-se a situação” (2009, p. 165). E tão subitamente quanto fora construida, a situação desmoronou. Qual vaga-lume, a esperança embutida no amor finalmente descoberto luziu no quarto escuro e no momento seguinte apagou. Só que para sempre:
E tudo acabou com um fim brusco de mau romance... Um grito súbito fez-me estremecer no leito: Fogo! Fogo! Abri violentamente a janela. O Ateneu ardia.” (2009, 168).
CONCLUSÃO


Deixamos de lado, propositadamente, a polêmica sobre em qual das mais conhecidas escolas literárias poderíamos enquadrar O Ateneu. São diversas as classificacões feitas, como diferente também a autoridade de quem as faz. Começa por Mário de Andrade, ícone da Semana de Arte Moderna e escritor de rara envergadura na literatura nacional, que o coloca como naturalista. Segue-se Lúcia Miguel Pereira, de estatura similar, que o situa como realista, próximo inclusive do realismo psicológico exercitado por Machado de Assis. No meio dessas duas definições, a de se tratar de obra vinculada ao impressionismo – que não forma propriamente uma escola literária, sendo antes um aspecto estilístico da linguagem – feita por críticos da estirpe de um Otto Maria Carpeaux, Afrânio Coutinho, Assis Brasil, entre outros.
Preferimos, assim, não nos alongar no assunto. Naturalista, realista, impressionista, já não é importante saber em qual desses cânones caberiam O Ateneu e seu autor. Até porque, todos quantos se revelaram divergentes na classificação, convergem unanimemente para aceitar a definição sumária de Massaud Moisés: “O Ateneu é a obra, retrato acabado e exclusivo de uma vida e de uma concepção de arte: obra-prima” (1985, p. 133). E é compatível com essa definição o final antológico que Raul Pompéia eternizou no romance:
“Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez, se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo – o funeral para sempre das horas” (2009, p. 172 – grifo nosso).




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Mário de. - Aspectos da Literatura Brasileira – Martins Editora S. A. São Paulo: 6ª edição.
GURGEL, Rodrigo – Enfermo de retórica – Artigo publicado no jornal Rascunho, Curitiba, junho de 2010.
MASSAUD, Moisés – História da Literatura Brasileira (REALISMO) – Vol. III –2ª edição - Cultrix, São Paulo: 1985.
PEREIRA, Lúcia Miguel – Prosa de Ficção (de 1870 a 1920) – Itatiaia, Belo Horizonte; Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo: 1988.
POMPÉIA, Raul – O Ateneu – 1ª edição - Editora Saraiva, São Paulo: 2009.


















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Sincronização ou Das Coincidências Significativas




O relógio parou às 11 horas e 11 minutos. 
Contei 11 vezes para 
começar a investigar o que 
poderia ter ocorrido. Bateria esgotada, 
maquinário quebrado, sujeira entravada. Qual desses fatores
me teriam desligado do tempo – “essa ocasião passageira dos fatos, 
mas sobretudo – o funeral para sempre das horas”, 
no dizer antológico de Raul Pompéia. Aprofundei a divagação, 
levando-a à seara preenchida pelo inusitado, pelas teias da psicanálise, quando não pelo sobrenatural. Foi quando me dei conta que estávamos no dia 11 de 11 do 11.    

PS - Texto inspirado na Ilustrissima da FSP de hoje, 11/11/11, que trouxe publicados 11 textos, em 11 linhas, de 11 autores diferentes. Enxerido como sempre "enxerí" o meu aqui e no face!