sábado, 15 de outubro de 2011

Elzita Santa Cruz




                                                  Chico de Assis

Carrega no sobrenome
como Cristo carregou nos ombros
o símbolo do sofrimento.
E o conduz através dos tempos
com os olhos serenos
dos que não conhecem rancor
e fazem da revolta
apenas um clamor
de justiça.

Se há realce nesses olhos
aponta para o amor.
Se neles há angústia,
aponta para o desassossego
da procura por entre os becos da mentira
os desvarios da tortura
os escaninhos do ódio
com que foram obrigados a conviver
na luta pelo pontificado da verdade.

Esses olhos
irradiariam apenas a bondade.
Não fosse a fagulha
fratura exposta
que sem lhes tirar o brilho
conduz a firmeza que interroga:
“Onde está meu filho?”


14 de outubro de 2011. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Poema

"Trouxe o sol à poesia
mas como trazê-lo ao dia?

No papel mineral
qualquer geometria
fecunda a pura flora
que o pensamento cria.

Mas à floresta de gestos
que nos povoa o dia,
esse sol de palavra
é natureza fria..."
                                     
                                   (João Cabral de Melo Neto, em 1947)
     

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

De um não lugar qualquer

                                                             Chico de Assis

De um não lugar qualquer
eu me desprendo
para ofertar ao mundo
o meu delírio
para visar ao fundo
o meu avesso
para guardar sem rumo
o meu espelho.