terça-feira, 17 de julho de 2012

SURTO DE HAICAIS


Conviver no amor
é trilhar caminhos da dor
estoicamente.



                                                Sonhos imponderáveis
                                                são enigmáticos sinais
                                                de loucos pesadelos.



Amor fermentado
em ódio: nutriente fetal
da intolerância.




                                                  Quando me desejam
                                                  muitas graças, eu bem pressinto
                                                  infelizes desgraças.



Fazer poesia
é fomentar uma forma
de alucinação..

domingo, 15 de julho de 2012

A ESPERANÇA É VERDE


                                                                      

                                                                 

CHICO DE ASSIS 

A esperança voga
e vive no fenecer
do tempo.

Tremula generosa
no olhar entrecruzado
em despedida
amor
tecendo o gesto
em direção à pílula fatal
mal digerida.

A esperança é feto.
Psicografa a melodia
determinação da luz
fulgurante
que nos imobiliza
e nos conduz.
Campos e relvas
virgens relembram
um tempo que se foi
para sempre
e parece não ter (s)ido
nunca.

Ah, o tempo de outrora
o tempo de contar
e cantar
a aventura inédita
a festa nos olhos
infantis
abertura pueril da
porta-fresta
onde penetra a morte.

Ah, o tempo do presente
assobiando o som
que nos perpassa o tímpano
e nos produz a dor
ancestral do amor
perdido
reencontrado
em chuva de dobrados
a orientar as mãos
os lábios velados
pelo riso
do renascimento.

Ah, o tempo do futuro
orquestração de címbalos
azuis
concertos musicais
de flautas
reencontro da cruz
em corrente magnética
com a poesia
que se esvai
no verso moribundo.
É preciso sim resistir:
por sobre os campos
os mares
as ruas
as calçadas
procurar a nota mágica
vinda de outras flautas
outros tempos
redescobrindo o nada
vazio mortal do salto
para a liberdade
azul
ninho da esperança
verde.

Agora as línguas
felinas
percorrem grutas
femininas
cavernas ambíguas
do ódio
laboratórios musicais
da solidão
que se eterniza.


sexta-feira, 13 de julho de 2012

INSUPORTÁVEL


Não suporto tédio. 
Não suporto mesmice.
Não suporto acomodações burocráticas. 

Talvez por isso
às vezes pense:
não me suporto!

O AMOR E O OUTRO




                                                                                                    Affonso Romano


           Não amo
                       melhor
            nem pior
            do que ninguém.

            Do meu jeito amo.
            Ora esquisito, ora fogoso,
            às vezes aflito
            ou ensandecido de gozo.
            Já amei
                       até com nojo.

            Coisas fabulosas
            acontecem-me no leito. Nem sempre
            de mim dependem, confesso.
            O corpo do outro
            é que é sempre surpreendente.