Chico de Assis
Prisão I
Flutua do poema
o desvario:
a sede de viver
intensitura
complicada de tecer.
Repousa no poema
a violência:
o uivo de um gemido
intrasitivo.
Registro em meu poema
a impotência:
insana incompetência
de conter o morto
vivo.
Prisão II
Os olhos sem brilho
arqueiam as sobrancelhas
ou espelham sonolência.
Os dentes sem presas
não mordem a carne
das coisas.
A vida entre-olhos
entre-dentes
entre-parênteses.
O Torturado
Nos olhos de medo
desfilam os amigos.
A História à espreita
num vão de janela.
Minha mente passeia
sobre grutas companheiras
que induzem à confiança.
Mas o meu corpo é um verme
sem muletas e habita
regiões desconhecidas
donde a humanidade foi repelida.
Tento inutilmente
alcançar a harmonia
das formas ou a ordem
cósmica das coisas.
Tudo se tece
em horas de coragem
lúcida ou se abate
num desespero/minuto.
A dor guarnece os limites
da cidade heróica
com os subúrbios
da vilania.
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