DO FALAR SEM DIZER NADA
AO SILÊNCIO QUE FALA (ÀS VEZES)
CHICO DE ASSIS
Foto: Flavio Florido/UOL
Talvez a presidente Dilma Rousseff esteja certa em falar pouco. Não só porque o país precisava mesmo de um contraponto radical à verborragia hemorrágica do ex-presidente, como também porque diante de situações vexatórias ou simplesmente kafkianas o silêncio talvez seja a melhor das armas. Desnorteia os adversários, deixa-os confiantes de que estão ganhando o jogo, e quando finalmente é quebrado, por alguma ação incisivamente positiva, geralmente traz resultados significativos à imagem de quem soube manejá-lo a contento.
O problema é que toda moeda tem dois lados. E o difícil, no caso, é dimensionar até onde e por quanto tempo se pode jogar apenas com um deles. Porque se há explicações que não explicam nada - como seriam as do ex-presidente Lula -, há silêncios intérminos que teminam traduzidos em conivência ou covardia.
Até o momento, a condução dada por Dilma no manejo dessas molas muito sensíveis e sem dúvidas caras ao que se chama governabilidade - saber o quê e quando falar ou simplesmente calar - ainda não se enquadra em extremos. Nem a irresponsabilidade inesgotável do falar por falar, nem o pânico que leve à inação absoluta. Nas diversas situações constrangedoras que atravessaram esse primeiro ano de governo, tem-se cobrado no mais das vezes maior rapidez em seu enfrentamento. Mas não há nada que se aproxime, ainda, de uma perigosa e total paralisia governamental.
De uma forma ou de outra, as reações têm vindo. Senão em palavras, em atos. Quase sempre tardios. Às vezes, discutíveis em seus desdobramentos. Mas atos. Sinais de que alguma ação está em curso. Que a meu ver ganhariam muito em eficácia, se acompanhados de explicações convincentes. Que ajudassem, por exemplo, na formulação - e publicização - de uma verdadeira Política.