Mas me interessa a catarse
o caudal de humanidade
contido em cada passo
em cada ser vivente
ainda que distante
o horizonte divisado
ainda que inexista
o vivencial configurado
ainda que esconda
a face da discórdia
e se alimente da inveja
ou do ódio represado.
Ainda assim me envolve
e me deixa a circular
em todos os quadrantes
buscando atento o fio
condutor
na infinidade de fios
desencontrados
deixados em viagens
que não vão terminar
porque sequer começaram.
Eu me envolvo e me cruzo
com o gajo português
cuja rispidez disfarça
o peito lusitano
a explodir de poesia e
lirismo
ou com o hermano espanhol
cuja descontração
anuncia
a alegria do combate
que hoje explode nas ruas
em desafios musicais
como antes resplandecia
em pugnas civis.
Ah, eu enfrento o
circunspecto francês
cuja desatenção se
confunde com arrogância
mas é na verdade orgulho
pela pátria mãe da
cultura
e de todas as liberdades.
Sim, eu me envolvo e me
emociono
e me perco no manancial de
lágrimas
que regam a semente
internacionalista
de uma utopia abatida
pela face perversa
do mundo globalizado
de onde se retirou o sonho
e se aniquilou o homem.
(Em 2007, a caminho de Madrid, ainda no aeroporto de Porto, a 23 de Abril, Dia
Mundial do Livro)